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Estrangeiro ( JM Adrade -18/01/07 às 01:47)
Estrangeiro ( JM Adrade -18/01/07 às 01:47)

Estranho, mas o tempo não passa tão devagar quanto antes. Temos um minuto para ver a luz antes que tudo se torne noite. Acreditamos estar aqui, nessa terra de ninguém. Lugar onde as pessoas habitam somente nos livros de história. Correndo ao encontro do desconhecido, buscando incessantemente algo perdido, audaciosamente desejando o imprevisto ao prever que tudo é óbvio. Sabemos que nada ficará apagado sob o fogo que queima no coração do passageiro. As passagens nos impedirão de partir. Não teremos outra música que nos embale por estes caminhos os quais nunca conhecemos. Como brilhou aos olhos dos seguidores da irmandade à vista dos sonhos não realizados! Talvez nos encontremos soltos no ar, livres para voltar. Mas somos extras de um filme. Todos fizeram sua participação, mesmo na pele de figurantes. Não há teatro, encenação. Isso deu lugar à vida. Vida que nos cerca com a morte. Ouçam o som dos exércitos que vão e que vêm. Eles são muitos jovens unidos, destinados a cumprir a trajetória do comum. Eles vêm das esquinas perdidas, das ruas sem nome e dos lares repletos de ausência, são estrangeiros! Estranho ainda seria mergulhar nesse lago sem cisnes, nessa água farta de seca, desse mundo que não passa. Aqui provamos do tempo, mais uma vez, no qual nos conheciam, momento em que chegávamos e todas as pessoas sabiam que ninguém estava aqui. Quem sabe como é o que é lá de fora? Como podemos entender aquele que é obscuro, que não se dá a conhecer? A loucura vem insana se mostrando como a única porta de saída. Mas não há fuga para o corpo estranho sem que este pare, se explique, se mostre de frente, se revele ao caos da sistemática mundana, fazemos parte disso. Não temos porque usar máscaras agora. Somos desconhecidos, mesmo ao sol do meio dia! Sozinhos a deriva num mar que não é belo, fazendo frente à tempestade que chega e experientes daquela que deixou as marcas desde quando passou por aqui. Não conhecemos o porvir, nem nos damos a conhecer aos diferentes, porém indiferentemente somos estrangeiros. Vindos de lugar nenhum, indo para o fim no qual aguardamos ser recebidos pelo início, somos o que não podemos ser. Somos os extremos das galáxias vistos a olho nú como um grão de areia. Estrangeiros mais uma vez melancólicos por não poder disfarçar que temos origem em outro país, que nascemos em outro lugar e que nem a luz poderá nos dar ao conhecimento alheio. Todos se perdem ao se encontrarem com seu destino. Todos se movem como as palavras do insensato. Todos melhores ou piores que tudo, mas estrangeiros, procurando ali e aqui às sombras de uma era que já não é e um dia há de ser, p. Assim somos, algo pertencente a um ponto, a um instante, a um tempo perdido no espaço atemporal. Somos estrangeiros do caos inexplicável.

 

José Maria Andrade (JM Andrade)

Em 18/01/07, às 01:47.